Estúdio
F
Bloco
1
Á
U D I O T E X T O
Música-tema entra e fica
em BG;
Locutor -
A Rádio Nacional apresenta
ESTUDIO
F,
Momentos
Musicais da Funarte
Apresentação
de ----- (1’25”)
Paulo Cesar:
Pianista
talentoso, de repercussão internacional, viveu na fronteira entre o
popular e o clássico. Há quem o conside pai da música popular
brasileira ou mesmo o
pai
do choro. É referência quando o assunto é o tango brasileiro.
Nosso homenageado compôs mais de 200 músicas e teve uma história
de vida tão intensa quanto os tangos, polcas e valsas que compôs.
(20”)
Entra
“Você bem sabe”, fica até 25”, cai como Bg do trecho grifado.
Começa
em 06”
Paulo Cesar:
Ernesto
Nazareth
é
o nosso homenageado deste Estúdio F.
Sobe
“Você bem sabe” e termina
como Bg no trecho abaixo.
2’56”
Paulo Cesar:
Ouvimos
a polca lundu “Você bem sabe”, a primeira composição de
Ernesto Nazareth, nessa versão, executada pela pianista Cleida
Lourenço.
Fim do
século dezenove, início do século vinte. Tempo
em que não existia rádio,
os discos
eram poucos,
as
gravadoras raríssimas
e o cinema,
mudo. Foi nesse cenário que Ernesto Nazareth conseguiu a façanha
de, ao mesmo tempo, cair no gosto popular e conquistar o público
erudito. Como a maioria dos compositores, viveu da venda das
partituras nas casas de música,
das apresentações e das
aulas particulares
de piano
que dava a
jovens – e felizardos – aprendizes.
O título
“Você bem sabe” foi um recado de Ernesto Nazareth para o pai,
aos quatorze anos, para que soubesse que era da arte que o rapaz
tinha
escolhido
viver. No ano seguinte, a canção foi editada,
pela famosa
Casa
Arthur Napoleão.
A
paixão pelo piano começou por incentivo da mãe, que morreu
precocemente, quando Ernesto Nazareth tinha dez anos de idade. Dali
para frente, o menino teve aulas com Charles Lambert (Lambér),
um
famoso professor vindo de Nova Orleans, nos Estados Unidos, a quem os
estudiosos atribuem a influência black (bléck)
nas
composições de Ernesto Nazareth. As partituras deste carioca são
tidas como as primeiras aparições do jazz na música erudita
brasileira.
Aos
17 anos, após compor a polca “Cruz, perigo!”, Ernesto Nazareth
fez sua primeira apresentação pública, mas foi com outra polca,
escrita em 1881, que ele
acabou conquistando o
sucesso. A canção “Não Caio N’outra” teve diversas reedições
e foi escrita em resposta a
uma polca
de
Viriato
Figueira da Silva chamada
“Caiu!
Não Disse?”. Vamos ouvir.
(1’30")
Entra
“Não caio n’outra” e fica até o final. 2'37"
Paulo Cesar:
Essa
foi “Não caio n’outra”, em
gravação de
1958,
por Darci Barbosa e Banda.
Naquele tempo, o
maxixe, era
um ritmo
mal visto pelo público mais conservador, que também era quem podia
pagar pelas apresentações e pelas
partituras.
Eram canções que animavam os forrobodós.
Músicas
de dança, algumas até proibidas nas salas das “moças
de família”.
Para agradar a esse público,
algumas composições recebem
uma nova roupagem,
com o nome de tango brasileiro. Esse tango foi criado a partir da
música cubana, com harmonia um pouco mais complexa, mas
principalmente para esconder a relação com o maxixe das festas
populares. Ernesto Nazareth sabia que
pra fazer sucesso e sobreviver da música não seria prático ser
identificado como “popular”,
por isso buscava ligação com os clássicos, “eruditos”.
Assim, o pianista viveu nesta
fronteira, inspirando-se em Chopin
(Chopén)
numas
partituras e fazendo tanguinhos dançantes em outras.
Essa foi a razão de
ter
usado um
pseudônimo
–
de
Renaud
(Renô)
–
para
assinar
o famoso
maxixe
“Dengoso”. Na sequencia, vamos
ouvir esse maxixe
executado
pela
Orquestra
Sinfônica de Recife. (1’)
Entra
“Dengoso e fica até o final. 2'17"
Paulo Cesar:
Em 1893,
a Casa Vieira Machado lançou o primeiro ‘tango brasileiro’ de
autoria de Ernesto Nazareth: "Brejeiro". A música foi
vendida
por cinquenta mil-réis, o que em 2014 seria o equivalente a
quinhentos reais. “Brejeiro” consagrou Ernesto Nazareth como o
grande nome do tango no Brasil e no mundo, sendo
publicada tanto em Paris quanto nos
Estados
Unidos.
Está
no ar a interpretação de Francisco Mignone.
(30”)
Entra
“Brejeiro” como bg, sobe e fica até o final. 3'19"
https://www.youtube.com/watch?v=aKJW0QssSrc
Paulo Cesar:
No
próximo bloco, o grande sucesso no Odeon e com o Odeon: o tango em
homenagem ao cinema
carioca que dá ainda mais destaque a Ernesto Nazareth. (10”)
Locutor: Estamos
apresentando Estúdio F,
Momentos
Musicais da Funarte. (3”)
(TOTAL
DO BLOCO 17’)
I
N T E R V A L O
- Insert Chamada Funarte
Á U D I O T E X T O
Música-tema
entra e fica em BG;
Locutor:
Continuamos
com Estúdio F
Bloco
começa direto com "Flauta,
cavaquinho e violão”
(https://www.youtube.com/watch?v=yMVJTL9TmWo),
que fica em primeiro plano até 01:16, quando cai em BG durante o
seguinte texto:
Paulo Cesar:
O
samba-choro “Flauta, cavaquinho e violão”, esse que estamos
ouvindo na voz de Aracy de Almeida, foi uma das muitas homenagens
feitas a Ernesto Nazareth por grandes nomes da música brasileira.
Com música de Custódio Mesquita e letra de Orestes Barbosa, a
composição confirmava a importância de Nazareth para toda uma
geração de compositores brasileiros. Como Heitor Villa-Lobos, que
em 1920
dedicou
a Ernesto Nazareth a peça "Choros nº 1", feita
para
violão. Em 1922, o mestre do tango brasileiro retribui
a gentileza com a dedicatória a Villa-Lobos na
música “Improviso”. No
ar,
“Choros nº
1”, executado pelo violonista Turibio Santos. (35”)
Entra
“Choros n. 1” entra
como bg, sobe e
fica até o final. 3'16"
Paulo Cesar:
Durante cinco anos, Ernesto Nazareth trabalhou na sala de espera do
Odeon,
um dos principais cinemas do Centro do Rio de Janeiro.
Por lá, conquistou personalidades ilustres, que passaram a
freqüentar o prédio não para ver filmes, mas para assistir a
Ernesto
Nazareth e seu piano. Assim, conheceu compositores
e
autoridades que lhe renderam outros trabalhos de prestígio. Um
retorno que o inspirou em sua composição de maior sucesso, feita em
1910: o choro “Odeon”,
que 50 anos
mais tarde
receberia
letra
de Vinícius de Moraes.
Gravada
por Nara Leão,
integrou a trilha sonora da novela “A Sucessora”, exibida pela
Rede Globo entre
1978 e 79.
A seguir:
a obra
prima de Ernesto Nazareth na voz
de Nara
Leão.
(45”)
Entra
“Odeon” e fica até o final. 2'45"
Paulo Cesar:
Ao se inspirar em Chopin (Chopén)
e
dar ares europeus à música dançante brasileira, Ernesto Nazareth
conquistou o respeito e a admiração do público e dos colegas
artistas, mas um grupo ainda não o considerava digno das salas de
concerto que recebiam celebridades européias da música clássica.
O
modismo europeu tomava conta do Rio de Janeiro, de modo que Ernesto
Nazareth –
e
tudo
mais considerado “mestiçagem”
– deixaram
de
ser bem vindos para uma suposta elite cultural. Era a Belle Époque,
o sonho com a vida parisiense e a negação dos elementos de cultura
popular.
A participação dele no concerto que, em 1908, celebraria o
“Centenário
da Abertura
dos Portos
Brasileiros”
por Dom
João Sexto,
virou um grande escândalo. Depois, em
1922, quando Nazareth foi convidado pelo compositor Luciano Gallet
(Galé)
a
participar de um recital no Instituto Nacional de Música do Rio de
Janeiro, foi preciso força policial para que o evento ocorresse.
Estamos ouvindo uma das canções executadas nesse recital:
“Bambino”, gravada por Arthur Moreira Lima, em 1975. (45”)
Entra
“Bambino” como bg no trecho grifado, sobe e fica até o final.
(3’21”)
Paulo Cesar:
Aos 63 anos, Ernesto Nazareth saiu pela primeira vez
do estado do Rio de Janeiro. Seguiu para uma excursão em São Paulo.
Inicialmente a turnê estava prevista para durar 3 meses, mas acabou
se prolongando por quase um ano, deixando a capital do estado e
passando também pelas cidades de Campinas, Sorocaba e Tatuí.
Diferentemente
do que tinha
acontecido no
Rio, onde
Nazareth penou com a
resistência nas salas tradicionais, em São Paulo ele
foi
homenageado por Mário de Andrade, convidado a se apresentar no
Conservatório Dramático e Musical de Campinas e no Teatro
Municipal.
Assim que voltou ao Rio de Janeiro, fez sua única gravação lançada
em disco. A seguir, “Escovado”,
executado pelo próprio Nazareth,
em
1930.
(42”)
Entra
“Escovado” e fica até o final. (2’25”)
Paulo Cesar:
No
próximo bloco, surdez, sífilis e loucura derrubam o gênio do tango
brasileiro. (10”)
Locutor: Estamos
apresentando Estúdio F,
Momentos
Musicais da Funarte.
(3”)
(TOTAL
DO BLOCO 17’)
I
N T E R V A L O
- Insert Chamada Funarte
Á U D I O T E X T O
Música-tema
entra e fica em BG;
Locutor:
Continuamos
com Estúdio F
Entra
“Nenê” e fica até
2’50, cai e vira bg no trecho grifado,
até
o
final. (3’)
É
a primeira música
Paulo Cesar:
Essa foi a música
“Nenê”, tango
executado
pelo
próprio Ernesto Nazareth
em
setembro de 1930.
Sem
formação clássica, o gênio do nosso tango era
chamado
por
uma suposta “elite
cultural”
da sua época como “pianeiro”,
termo pejorativo que indicava alguém sem educação formal para o
piano,
o que muito
magoava Nazareth.
Mas o tempo mostrou todo o valor do artista. Ele tornou-se o ídolo
de grandes músicos de diferentes lugares do mundo, principalmente
brasileiros. Foi o caso de Radamés Gnattali
(Nhátali),
que se encantou ao ver Nazareth tocando
no Cine Odeon e depois gravou algumas de
suas composições.
Jacob do Bandolim também estudou incansavelmente os
manuscritos de Nazareth.
Na
sequencia, a composição de Ernesto Nazareth, “Ameno Resedá”,
uma homenagem ao mais popular rancho carnavalesco carioca,
interpretada por Jacob do Bandolim e o conjunto Época de Ouro,
no álbum “Chorinho e chorões”, de
1961.
(50”)
Entra
“Ameno Resedá” e fica até o final. 2'15"
Paulo Cesar:
Ernesto Nazareth deixou mais de duzentas
peças completas para piano.
Não só de tangos foi a sua produção: escreveu 20 polcas, mais
de
40 valsas, além de 90 tangos e outras
músicas
de gêneros variados. A valsa ''Coração que sente'' foi dedicada
por
ele a uma aluna de nome Gabriella
Cruz.
Nazareth
contou
pra ela
o sofrimento dos últimos dias de vida de um sobrinho
e a
menina
desabou em prantos,
ouvindo em seguida do professor:
“Gabriella,
você é muito sensível, um coração que sente.”
Na semana seguinte, presenteou
a aluna com o manuscrito da valsa que ouvimos agora, na apresentação
de Maria Teresa Madeira.
(30”)
Paulo Cesar:
Ernesto
Nazareth
tinha
dez anos de idade quando
caiu
de uma árvore e bateu a cabeça com força,
começando
a
perder a audição. O problema foi se agravando e, com o tempo, ele
passou
a ter que tocar curvado sobre o piano, para conseguir escutar a
própria música. Até que, no final dos anos 20, estava
completamente surdo. Esse momento de tanta dor virou um dos mais
alegres tangos do compositor, que Arhur Moreira Lima toca agora no
Estúdio F: "Apanhei-te, cavaquinho!"
(30”)
Entra
"Apanhei-te, cavaquinho" e fica até o final. (2'05")
Paulo Cesar:
Se
a surdez não impediu Ernesto
Nazareth de compor, outra doença terminou com a carreira do
pianista. Em 1932, ele recebeu a notícia de que era portador de
sífilis e a doença rapidamente atingiu seu sistema nervoso central,
causando delírios. A primeira
tentativa da família foi o tratamento no Hospício Dom Pedro
Segundo,
na Praia Vermelha, mas o músico fugiu
algumas
vezes de lá. Então, um ano depois, Nazareth foi internado na
Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Na data em que seu filho
morreu, se embrenhou
pela mata,
durante um delírio,
provavelmente em busca do filho morto. O corpo do pianista, nascido
em 20 de março de 1863, foi encontrado no dia 4 de fevereiro
de
1933,
boiando em uma represa. Ao longo
de setenta anos, Ernesto Nazareth travou várias lutas: a falta de
dinheiro, como Mozart, a Sífilis como Schubert, a surdez como
Beethoven e a loucura como Schumann. Esteve sempre entre os melhores,
deixando um legado que elevou o tango brasileiro perante músicos de
todo o mundo. Para finalizar a
homenagem do
Estúdio F, Odeon, executado pelo pianista alemão Bernd Lhotzky
(Bérn
Lótski).
(1’20”)
Entra
"Odeon" e fica até o final. (3'04")
Entra
música tema do Estúdio F e fica em BG com a narrativa abaixo
grifada. (57”)
Paulo Cesar:
O programa de hoje foi roteirizado pela pesquisadora e jornalista
Aline Veroneze com supervisão de Pedro Paulo Malta. O Estúdio F é
apresentado toda semana pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro e nas
Rádios Nacional de Brasília e da Amazônia, emissoras EBC –
Empresa Brasil de Comunicação. Os programas da série também são
uma das atrações do Portal das Artes. O endereço é
www.funarte.gov.br. Cultura ao alcance de um clique! Você também
pode ouvir o programa pelo site da EBC: www.ebc.com.br. Quem quiser
pode escrever para nós, o endereço é: estudiof@ebc.com.br
Apresentador:
Valeu,
pessoal! Até a próxima!!!
OBS:
O terceiro bloco tem um total de (19')
Total
aproximado (53')
CHAMADA:
Apresentador:
Ele
projetou o tango brasileiro a nível internacional. Inspirado em
Chopin (Chopén)
e dedicado a tocar como os eruditos, criou um estilo que acabou por
também torná-lo popular.
Sua
vida foi tão intensa quanto seus tangos. A história de Ernesto
Nazareth é
o tema
do
próximo
Estúdio F
na segunda-feira,
às 21 horas, aqui na Rádio Nacional.
(20”)