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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Um Dorival Caymmi que poucos conhecem - Uma publicação minha para o site da Funarte

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Ilustrador: um Dorival Caymmi que poucos conhecem



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As tantas mulheres cantadas por Dorival Caymmi ganharam forma. As curvas generosas, que inspiraram tantos suspiros nas letras das músicas, dessa vez não vieram de nenhuma atriz no papel de sereia ou mulata, mas dos traços do próprio compositor. Com um talento para escrever música já consagrado, Dorival também usou lápis, tinta e papel para representar muitos de seus personagens. Esse seu lado ilustrador e pintor é pouco conhecido do público, mas já foi publicado pela Funarte, em 1984.
As ilustrações, agora digitalizadas, foram reunidas em um trabalho com textos do pintor Carybé e do produtor e poeta Hermínio Bello de Carvalho, além de vários desenhos e pinturas de Caymmi, que representavam dez dos personagens de suas canções e um autorretrato.
Nas ilustrações, o tema mais frequente foram as mulheres: “Rainha do mar”, “Vou vê Juliana”, “O que é que a baiana tem”, “Dora”, “Marina”, “Rosa Morena”, entre outras.  A figura masculina aparece como personagem secundário em “Vou vê Juliana” e torna-se objeto principal em “João Valentão”, que, segundo Hermínio, é um personagem autobiográfico: “aquele que nunca precisa dormir para sonhar”. O mesmo ocorre em “Milagre”, inspirado na Semana Santa, segundo lenda dos pescadores baianos, em que Caymmi retrata a fartura de peixes nas redes de três pescadores.
O compositor pintou também os sabores de sua terra natal: do prato mais famoso, o vatapá, deu ao mundo o segredo da receita: “não para de mexer, que é para não embolar”. Outro dos personagens de seus desenhos foi a negra que circulava anunciando o acarajé.
Dorival Caymmi foi um dos artistas mais emblemáticos do Brasil. Suas composições saudaram as mulheres, as lembranças de menino em Salvador, mas, sobretudo, apresentaram ao mundo a unicidade da região: o vatapá, o acarajé e a vida dos pescadores. O gosto pela música veio de berço: o pai, um funcionário público descendente de italianos, tocava piano, violão e bandolim. A mãe, doméstica, descendente de portugueses e africanos, cantarolava pela casa, temperando a identidade do garoto com a brasilidade fruto dessa miscigenação, que nem sempre em nossa história ocorreu de forma harmoniosa.
Caymmi interrompeu os estudos para trabalhar como auxiliar de escritório e, mais tarde, como caixeiro-viajante. Sozinho, arriscou as primeiras notas ao violão. Em 1930, com a canção No Sertão, começou a apresentar-se nas rádios com suas próprias composições. Em 1935, já estreava o programa Caymmi e suas canções praieiras na Rádio Clube da Bahia. Dali para todo o Brasil foi um pulo. Apenas três anos depois, Caymmi estava na Rádio Transmissora, no Rio de Janeiro, cantando O que é que a baiana tem?, música que conquistou o país e virou parte da trilha do filme Banana da terra, com Carmem Miranda. Em 1939, Caymmi já fazia parte da equipe da prestigiada Rádio Nacional, onde conheceu a caloura Stella Maris, com quem mais tarde se casou .
Nas décadas seguintes, Caymmi produziu cerca de uma centena de músicas, entre elas: Samba da minha terra (1940), Rosa Morena (1942), Marina (1947), Não tem solução (1952), João Valentão (1953), Maracangalha (1956) e Oração para Mãe Menininha (1972).
Os sambas de Dorival Caymmi representavam tão bem a Bahia que o governo local deu uma condecoração ao compositor. O reconhecimento de seu talento não parou por aí: fez sucesso na novela Gabriela, com Modinha para Gabriela; foi homenageado como tema do enredo campeão apresentado pela Mangueira em 1986 e teve suas músicas regravadas por um número imenso de artistas.
Nascido em 30 de abril, Caymmi estaria completando um centenário em 2014.  Morreu em 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, de falência múltipla dos órgãos. Onze dias depois, com saudade, como disse Herminio Bello de Carvalho, voltou para levar sua companheira de vida inteira, a ex-cantora Stella Maris.
Por Aline Veroneze
Revisão de Pedro Paulo Malta e Maria Cristina Martins

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